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OPINIÃO: Turnaround em tempos de incerteza? Sim, é possível.

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Vivemos tempos de grande incerteza macroeconómica, gerada, entre outros, pelos elevados constrangimentos atuais nas cadeias de fornecimento, pelos elevados custos das matérias-primas energéticas, pelas atípicas taxas de inflação (8,1% em 2022) e pela subida das taxas de juro.  

Numa envolvente de – inexorável e contínua – escassez de recursos, a recuperação de empresas é um fenómeno ao qual se deve prestar elevada atenção, não só pela sua capacidade de eliminar processos de destruição de valor, mas também por ser potencialmente originária de uma mais eficiente utilização de recursos. 

Embora existam alguns indicadores que permitam antever uma ligeira recuperação da economia nos próximos anos (a recente desaceleração da inflação e a execução dos fundos comunitários, entre outros), essa realidade parece estar ainda bastante distante do horizonte de muitos gestores de empresas em Portugal, que se confrontam atualmente com a necessidade de iniciar ou aprofundar um delicado processo de reestruturação financeira. 

Uma reestruturação financeira bem executada tem como principais benefícios o restauro da confiança dos credores, a recuperação da sustentabilidade da estrutura financeira e a redefinição do foco para a gestão por objetivos. Permite também evitar potenciais situações de incumprimentos (fiscais, laborais, bancários, comerciais), que habitualmente resultam numa danificação da imagem da sociedade. 

Atendendo a tratar-se de um processo, em geral, bastante complexo, o seu planeamento antecipado é fundamental não só para assegurar a liquidez da empresa e a reflexão adequada acerca dos motivos que originaram a necessidade de reestruturação, mas também para permitir a formação de uma equipa comprometida com o sucesso do projeto e capaz de desenvolver e negociar um business plan credível com todos os seus credores. 

Uma das componentes mais difíceis de gerir num processo de reestruturação financeira é a gestão dos stakeholders (fornecedores, bancos, estado, clientes, colaboradores, acionistas), uma vez que é fundamental conhecê-los, perceber a sua relevância, e saber comunicar-lhes adequadamente as necessidades da empresa.  

Existem atualmente várias opções de reestruturação de dívida à disposição das empresas, mas destacam-se a negociação judicial via Processo Especial de Revitalização (PER) e o Regime Extrajudicial de Recuperação de Empresas (RERE). 

Ambas têm vantagens e desvantagens associadas, e os efeitos da sua aplicação devem ser cuidadosamente pensados, de forma a garantir a máxima eficácia do plano de reestruturação.  

No entanto, um processo de reestruturação financeira não se resume à renegociação bem-sucedida da dívida da empresa. É fundamental desenvolver, em simultâneo com o processo de renegociação de dívida, uma estratégia para o Turnaround operacional da empresa, isto é, identificar com o máximo rigor possível todas as causas originárias da crise da empresa e definir um plano de trabalho de forma a ultrapassá-las, garantindo que, de futuro, não se repetem. 

José Pedro Pais, Consultor Financeiro, Partner da Capitalizar

Sapo, 13 de junho de 2023

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