No último boletim económico publicado referente a março de 2024, o Banco de Portugal analisou a evolução dos empréstimos às empresas, destacando o impacto das medidas de apoio ao crédito implementadas durante a pandemia. As linhas de crédito com garantia pública e as moratórias de crédito foram fundamentais para o crescimento do crédito empresarial e a manutenção da liquidez das empresas entre março de 2020 e dezembro de 2021.
Essas medidas foram essenciais para sustentar as empresas durante a crise, permitindo a suspensão temporária dos pagamentos de juros e reembolsos. No entanto, com o início do aperto da política monetária pelo Banco Central Europeu (BCE) em julho de 2022, observou-se uma redução no valor total dos empréstimos concedidos por bancos residentes às empresas. Esta evolução pode ser analisada com base nos dados da Central de Responsabilidades de Crédito (CRC), que distinguem quatro grupos de empresas conforme o benefício das medidas de apoio:
- Empresas com crédito com garantia pública e beneficiadas pelas moratórias (27% do valor total dos empréstimos).
- Empresas com crédito com garantia pública, mas sem beneficiar das moratórias (12%).
- Empresas sem crédito com garantia pública, mas beneficiadas pelas moratórias (23%).
- Empresas sem crédito com garantia pública e sem beneficiar das moratórias (38%).
A maioria das empresas que não utilizaram nenhuma das medidas eram elegíveis, sendo micro, pequenas ou médias empresas sem histórico de incumprimento no início da pandemia.
A análise revelou que, desde o início do aumento das taxas de juro, os novos empréstimos às sociedades não financeiras permaneceram estáveis, mas os reembolsos aumentaram, resultando em fluxos líquidos negativos. Este comportamento foi particularmente evidente nas empresas que utilizaram as moratórias e os créditos com garantia pública, cujos reembolsos contratualizados aumentaram após o término dos períodos de carência e das moratórias.
Por outro lado, as empresas que não beneficiaram de nenhuma dessas medidas mostraram fluxos líquidos positivos desde o final de 2021, devido a um aumento dos novos empréstimos e à estabilidade nos reembolsos. Estas empresas, geralmente menores e menos exportadoras, foram as únicas a registar um aumento recente no recurso ao crédito em termos líquidos.
É interessante notar que o montante total de reembolsos antecipados aumentou após o início do ciclo de subida das taxas de juro, mas o seu impacto na evolução geral dos empréstimos foi pequeno.
Em conclusão, a redução recente nos empréstimos bancários às empresas é principalmente atribuída ao aumento dos reembolsos por parte das empresas que reforçaram suas posições de liquidez através dos apoios governamentais durante a pandemia. Por outro lado, o fluxo de novos empréstimos permaneceu relativamente inalterado, apesar do aumento significativo das taxas de juro pelo BCE.
Esta análise do Banco de Portugal destaca como as políticas de apoio emergencial tiveram um papel crucial na sustentabilidade das empresas durante a pandemia, mas também como a retirada desses apoios e o aumento das taxas de juro estão agora a moldar o cenário do crédito empresarial.
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Baseado em Banco de Portugal